segunda-feira, 28 de setembro de 2009

aos 80 anos.

foi amor a primeira vista, não sei se nas mãos, nos cabelos, nos olhos. Não sei onde tava aquela memória que me puxava pra você feito criança na entrada de uma loja de doces. As mãos enrugaram, os cabelos cairam, os olhos diminuiram e você foi embora. Foram todos embora depois daquela noite e eu fiquei. Eu e suas marcas (aquelas de um sábado as 19hs) misturadas nas minhas. modificadas. transformadas e amadas no suor dividido, nos sorrisos trocados, nas lágrimas enxugadas e na memória que você construiu pra mim e me deu com tanto amor de presente. Talvez o melhor e o mais bonito de todos.

domingo, 27 de setembro de 2009

nosso casamento me violenta porque...

porque eu te amo mesmo com tudo. porque eu não te vejo do outro lado da porta. porque sobro nos encontros que marco com você. porque tudo parte de mim. porque cansa. porque me bloqueia. Porque perto de você eu esqueço o meu cheiro. Porque perto de você eu esqueço meu tamanho. Esqueço os amores mais antigos, esqueço de me alimentar bem, esqueço de dormir, esqueço de tomar meu remédio e de ler meu livro. Porque perto de você eu lembro o quanto você é alto. Lembro de todos os seus amores mais antigos, lembro de te convidar pra jantar, de te colocar pra dormir, de dar o seu remédio e de ouvir você lendo seu livro pra mim. porque chorar na sua frente é fácil e eu me sinto confortável. porque me dói ver você chorando. Porque me dá vontade de te abraçar o tempo que você precisar. porque eu fico refém e porque ficar refém me liberta. porque eu nem sei se isso importa.

eu sobrei porque...

Porque não tinha com quem dividir. Ela olhou no buraco da fechadura mas não encontrou ninguém. Então saiu correndo porta afora e foi escorrendo pela rua. A procura de alguém que pudesse suprir, porque um buraco tinha acabado de se abrir naquele momento. Continuou escorrendo até que foi interrompida pelos sons incompreencíveis das ruas. Porque estava tão frágil que até o mais doce som que fosse estranho poderia cortar. Então sobrou um pouco mais no silêncio. lamentou e sobrou no lamento. Colocou o fone de ouvido e ligou uma música na esperança de se dividir em alguma melodia. Então voltou a escorrer. Porque a música parecia perfeita para o momento. Porque era quase inacreditável. Ela não desistiu e continuou procurando até que o encontrou. Suspirou e sobrou no suspiro, depois ela sobrou na decepção. Porque talvez fosse deselegante dividir suas sobras naquele momento.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

quando eu tiver 80 anos...

quando eu tiver 80 anos minha unha vai ser bem curta como unha de criança, como era quando eu tinha 3 anos. Meu rosto...meu rosto...meu rosto...vai ser manchado, com manchas lindas. Meu pescoço vai ser muito enrugado. Muito mesmo. Minha boca vai ser mais clara e mais bonita. Meus olhos serão pequenos e um pouco caidos. Talvez meu nariz pareça um pouco grande e desproporcional ao resto. Ao resto. A tudo que fica. Ai, eu vou ser sim, vou ser um pouco corcunda e ter uma barriga de grávida. Que ficou. Braços e pernas fragéis mas fortes ao mesmo tempo. Resistindo. os pés é que....é que não vão sustentar tudo que precisam. A bunda vai ter diminuido assim como os peitos. Tenho certeza.

domingo, 20 de setembro de 2009

talvez exista um momento de reconhecimento.

talvez exista um momento de reconhecimento.

a gente nasce e já aprende o que é o amor. nossos pais fazem questão de ensinar. depois é um aprendizado sem fim e aos poucos vamos evoluindo nesse processo louco de aprendizado e amadurecimento. aprendemos o que é o respeito, o que é o desejo, o que é a consideração. depois o que é a solidão, o que é a autonomia, o que é uma escolha. o que é(!?).

o sentido!? o sentido a gente aprende quando reconhece. quando reconhece aonde tá o amor, quando reconhece aonde tá o respeito, quando reconhece aonde tá o desejo, aonde tá a solidão, aonde tá a escolha da profissão, a escolha do estilo, a escolha do movimento, a escolha da noite de sábado, a escolha do livro da semana, do mês, do ano, da companhia pro café, do filme alugado, da música selecionada, reconhecemos que estamos aprendendo(ainda e talvez sempre)

ai a gente reconhece a nossa maturidade e a falta de. percebe porque naquele mês e na naquele dia não deu. teve que se romper. não havia reconhecimento e talvez seja ele que ajude a se perpetuar.

gosto de reconhecer isso em você.

não que seja fácil reconhecer. talvez seja difícil. tem gente que chega aos 60 e não reconhece. normal.

a evolução é um processo que o reconhecimento não controla.

e assim se dá.

talvez.

eu sou bonito e/ou eu sou feio porque...

porque...
porque...
porque...
porque eu tenho uma mancha. uma mancha na mão, rosa, que todo mundo pensa que é queimadura
porque eu tenho duas pintas na bunda. uma maior e outra menor e as duas são pretas
porque eu tenho duas verrugas na orelha
porque meu olho é menor do que devia ser
porque minha mão é mais fina do que devia ser
porque meus pés são mais finos do que deviam ser
porque eu sou pequena de mais

e isso não faz o menor sentido.