segunda-feira, 1 de novembro de 2010

quebrou

Quebrou o colar que ficava bem com todas as roupas e seria aquele que nunca iria quebrar devido ao especial cuidado e atenção. Quebrou o brinco e também quebrou batom. Quebrou o barco de brinquedo da forma mais violenta que já se viu algo sendo quebrado. Antes quebrou paciência, depois proximidade. Quebrou a perna e abriu a cabeça. Junto quebrou a beleza de uma criança que dançava balé no centro da sala e a felicidade de encontrar uma foto que a mãe tanto procurava. Quebrou a distância a vergonha e o pudor. Quebrou o chuveiro, quase teve um curto circuito e naquele dia, naquela tarde nublada, pensamos em tomar banho de balde com a água do tanque, depois pensamos em aquecer a água do tanque no fogão e aí sim tomar banho de balde com a água do tanque aquecida no fogão. Quebrou o ar condicionado e mais aninda a mesma vontade de sempre de voltar pra casa. Essa quebrou muito antes. Quebrou copo no café da manhã, copo no almoço e copo no jantar. Quebrou a mesa de jantar. Quebrou o computador e a família toda. Quebrou algo que não tem nome e se perdeu. Parede. Quebrou parede e canos e rodapé e teto. O chão quebrou muito pouco. Quebrou o sofá da sala, o puxador, a maçaneta, a geladeira, o microondas, a torradeira, tudo de uma vez. Quebrou uma paz. Só uma, um dia. Quebrou qualquer respeito. Quebrou tolerância e depois intolerância. Quebrou a dieta e pior de tudo: quebrou o combinado. Quebrou o ziper da bolsa. Quebrou a cama. Quebrou o relógio, o despertador. Quebrou, só quebrou.