quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

quente

Disseram que era uma foca, uma célula repartida, um rizona, uma galáxia, uma pedra. É só uma panela queimada, "mas pode viajar também", eu disse, disse a ele, ontem. Queimei a panela e sobrou uma vida inteira, nada de pó, restos, migalhas, uma vida inteira, inteirinha, assustadoramente inteira. Era isso que eu queria dizer pra ele. "Isso aqui é uma vida inteira"...uma eternidade de noites em claro, dó, dói, dói, bastante, a pele arde, os olhos esbugalham, a língua fica aspera, a boca molhada e seca, molhada e seca, a vagina húmida, coça e o cú. a barriga segura a onda, mas as vezes surpreende com ignorância, a cabeça essa explode. E a garganta, não quero me estender agora nela, porque é só tristeza e o pulmão, alguém viu ele por ai!? escápulas soltas, pés quebrados, colaborando para o desequilíbrio total. Cortar o dedo então, é inaceitável, já basta né. Ok, tem muito drama nisso tudo, agora assim, confesso que tem, tô vomitando um pouco essas palavras e apertei as teclas com muita força, acontece. Mas na real, na vida real, não é sobre drama e não vou ficar provando isso pra ninguém, aceitação agora tem outro significado, meus bens. Sinceramente, fala-se de todo tipo de preconceito fantasiado de fobia hoje, mas fobia de doente, podemos falar!? Desculpem minha ignorância, mas eu acho que devíamos parar, só um minuto e pensarmos. eu e você!? pode ser!? Sem se prender só na Aids, aí mora toda uma história com mil raízes facilmente desdobráveis...eu tô sugerindo abrir, escancarar a boca do balão...é uma infinidade, é só você olhar, um pouco mais longe, um pouco mais fundo, talvez mais perto. Olha. Olha a ponto de poder viajar, no tempo dos corpos desviados, olha aquele doente ali! Olha como ela fica doente o tempo todo, é muito estranho, não consigo entender. Não é possivel, ela não vai ao médico direito, come mal, faz coisa demais, uma enxurrada, nesse momento. Ela que nunca não perdeu o ar ao correr, que nunca pôde fumar um cigarro numa hora de estresse porque um trago um dia já significou aquela velha companheira, a sensação de morte. Aquela que tem praticamente uma semana de faltas mensais anotadas nas cadernetas da escola, aqueles que choram e desabam, e aqueles que nunca choraram e em um segundo explodiram em alucinações. Aquela que chamam pra sair e a desculpa é sempre a mesma...aquela que tem que se explicar e choca. Aquela viciada, mal amada, carente no mínimo, como pode!?. Aquela, aquela que justamente quando quer dividir ignoram. Acham feio. Acham estranho, estranho querer falar logo de cara, sobre algo tão feio, estranho falar, não tá doente!? Tá falando por que!? Tem que ficar quieta, descansar. qual é o significado disso!? Aí você apelou, jogar isso pra cima dos outro, como!? Como, nada!? enxurrada, já estou falando sozinha. É pra acreditar, não sei, entender não sei, acha brusco então, eu acredito, em mim, mas não caga na minha ha crença. Então, fala qualquer coisa...porra, se eu falei é porque eu acredito, não basta agora!? agora vai querer, mas tem que ser de outra forma...mas é condição, existência. é sobre mim!? a vida, só a vida a panela não. qualquer coisa que me pare, fala, um gesto, não é mais natural!? qualquer coisa que me interrompa. pra aliviar tudo isso eu preciso parar, não dá para ser só sobre mim. só um pouquinho, fala, um movimento, um som, qualquer coisa porra..não pode ser tão difícil assim acreditar naquilo que não entende, se é só uma panela, então essa é minha forma de dizer adeus: vou sobreviver.

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