segunda-feira, 13 de abril de 2015
para-joão
14-04-15
é que Você encerra muitas coisas em mim e eu nem preciso te contar muito sobre elas, não por achar desnecessário o-compartilhamento, não por achar que ele perfuraria-nossa-própria existência, trazendo à tona realidades-insustentáveis em nosso encontro. não por achar que precisamos ter-um novo espaço para ser preenchido(claro que não) e o ato de dizer seria enchê-lo muito-rapidamente. não-é-por-nada, apenas por sentir que ha em você uma (certa) autonomia em seu saber sobre o-que-em-mim permanece, há uma autonomia sobre seu olhar, sobre sua percepção. e isso é o que define com tamanha precisão os contornos que você cria em mim. no momento em que você me encerra, você me inaugura.
você me inaugura de modo menos agressivo que meus próprios gestos e talvez eu-nunca-tenha-antes-visto-isso. talvez ninguém tenha me inaugurado com tamanha afirmação e delicadeza. essa-difícil-combinação, me põe antes-de-mais-nada em estado de curiosidade. e com os devidos estranhamentos, então-já podemos-falar de desejo!?
esse, desejo, que-cria contornos tão precisamente-reais. e a realidade é tão carregada de silêncio, e você ativa tanto todo-esse-silêncio, que dos contornos derivam arestas que me produzem-arremedos e arredios, talvez sejam-necessários, eu sei. eu sei, faz-parte, por isso sim, sim, desejo-te mais-uma-vez. me-ponho-a-olhar e sinto aqui-agora. você. está posto.
por isso sem-romantização, mas, por-isso-mesmo, reconheço o esforço que é abrir espaço(s). e nesse alargamento de corpo(e alma) -para-você-entrar- percebo uma nova vibração que dói, e dá prazer, e dói e dá prazer, e mais prazer e menos dor, que tem cor e cheiro e som e é estranho, e absolutamente reconhecível, e bom e me dá paz, e escorre, e retém, sem deter um só segundo, segue seu fluxo com desvios empáticos, pois fugir seria a pior das opções. não dou conta da superfície e você (também) me aprofunda. assim-te quero, te percebo, te confabulo, te anceio, te desejo, te estranho, te recebo, te experiencio em mim e me proponho em ti e enfim, agora posso parar(pra respirar). sem interromper. o que houver de haver. início.
sábado, 31 de janeiro de 2015
curiosxs somos todxs
você disse que era curioso com a minha curiosidade sobre você, pois curioso pra mim é eu ter pego metrô naquele dia depois de muito relutar e ter entrado no mesmo vagão que você, curioso você estar acompanhado naquele vagão. uma semana depois, curioso foi o encantamento obstinado na festa do Panorama e mais ainda você estar lá, e mais ainda, a naturalidade dos corpos que necessitavam partir sem precisar de nomes. curioso eu não saber exatamente de onde partiu aquele beijo e no instante em que paramos, eu achar que estava num ponto do espaço, mas na verdade estava no ponto oposto. curiosa é a embriagues. o mais curioso de tudo pra mim sempre será aquele almoço pós foda e a playlist do bar, num ritmo "dancing", que vinha muito a calhar. curiosidade pra mim tem trilha sonora. curioso foi sentar do seu lado no Sérgio Porto, ainda sem saber do que se tratava. curiosa foi aquela semana de coincidências já traçadas entre o Centro de Artes da Maré e o Castelinho do Flamengo. curioso é peixe frito, arroz e feijão, e as milhões de possibilidades de se fazer um cuscuz. curioso pra mim é você dizer que ia fazer uma comida que eu jamais esqueceria e eu perguntar se você se responsabilizaria por isso. é rirmos disso e em seguida darmos o melhor beijo de todos. curiosas são as suas respostas. e o encontro depois de um mês e uma semana em distância, não nego que curiosamente estranhei o significado da tua presença, mas que depois ela entrou, entrou pelos sete buracos da minha cabeça e não esqueço de cada segundo daquele domingo quente, em que passamos 24h dentro de casa e as 24h voaram feito foguete. no final do dia deu ventania na janela antes de sairmos para comer e lembro bem da sensação no meu peito enquanto eu me apoiava e como, curiosamente, esse vento secou as lágrimas de algumas horas antes. curioso é o transbordamento do sexo que me faz chorar e meu corpo sentir espaço seguro pra desabar água na sua frente. curiosa é a mesa de fundo do Lamas e a doçura do bebê que estendeu a mão pra você. curioso é matar a fome pós sexo com estrogonofe e sanduíche de rosbife com abacaxi. é eu, até então, só ter te encontrado com esmalte colorido na unha. curioso foi o banho um dia antes de você viajar e uma frase inesquecível que você disse enquanto lavava o cabelo. e depois quando nos despedimos você ter afirmando que a gente se via na sua volta e que íamos falando no facebook. curioso é que achei ousado, mas quando virei a esquina, pensei que você estava certo. curiosa é a leveza. os pelos, o cheiro. curioso é que tenho um péssimo olfato e nunca fui de lembrar cheiros. curioso foi sentir o seu cheiro no meio do show do Lucas Santtana. curioso é você não usar cueca e eu não usar sutiã. curiosa são as brechas, são as tantas coisas que você não sabe de mim sabendo, é curioso como o tempo consegue ser tão assustador e maravilhoso. curioso é o "nosso" tempo, mais ainda é você ter se referido ao tempo como "nosso" e eu aqui tentando entender o que seria "nosso" tempo. curioso é que você é homem e sobre "tempos" ha um abismo entre nós. curioso é nunca termos escutado nenhuma música do caetano juntos, mas também todas as outras coisas que escutamos. curioso são os dois pontos brilhantes azuis colados no meu box e purpurina do seu corpo no meu sabonete. é a paisagem que eu olhava quando você me disse que queria me ver "do jeito que eu fico" na casa de madeira. curiosos são os tantos lençóis sujos de sangue e eu ter conseguido tirar as manchas da minha colcha branca, que você, por sinal, achou que não sairiam totalmente. curiosos são os espaços de 15 dias. é o que se apresenta como aflitivo ou conflituoso. é curioso que o desvio as vezes seja mais afirmativo. é também poder inaugurar novos espaços de diálogo. é poder compartilhar essas questões. é ver você mais exposto. é o seu olhar mais molhado e até um riso torto. curioso é você não se achar misterioso comigo. mas eu sigo achando. curioso é ser sobre tesão e desejo, mas que ambos produzem realidades que evocam presença, que por sua vez, criam dobras infinitas. curioso é que sim, você se faz presente aqui. já está posto. curiosa é a cartografia sentimental. é como a(fe)tivação expande mundos. curioso é que o mais bonito seja dormir junto. curioso é seu sono pesado, mas é também você despertar rápido. curioso é permanências e destruições, é o carinho nas costas, o cheiro no cangote e o beijo no pescoço. curioso é eu ter acordado hoje com urgência de escrever isso aqui. é ter tantas outras coisas pra colocar, mas ao mesmo tempo, querer parar imediatamente nessa linha. é ter espaço pra ingenuidade, não ter medo de expectativa, é saber dar conta junto do que se cria junto, por favor, sem romantismos. é curioso que seja difícil guiar os afetos. é curioso que colocando em movimento, com honestidade, fica o que significa. é você ter me dito na sexta feira, antes deu ir embora que a gente ia se entendendo, se amando, se odiando. é tudo isso ecoando e muito mais.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
quente
Disseram que era uma foca, uma célula repartida, um rizona, uma galáxia, uma pedra. É só uma panela queimada, "mas pode viajar também", eu disse, disse a ele, ontem. Queimei a panela e sobrou uma vida inteira, nada de pó, restos, migalhas, uma vida inteira, inteirinha, assustadoramente inteira. Era isso que eu queria dizer pra ele.
"Isso aqui é uma vida inteira"...uma eternidade de noites em claro, dó, dói, dói, bastante, a pele arde, os olhos esbugalham, a língua fica aspera, a boca molhada e seca, molhada e seca, a vagina húmida, coça e o cú. a barriga segura a onda, mas as vezes surpreende com ignorância, a cabeça essa explode. E a garganta, não quero me estender agora nela, porque é só tristeza e o pulmão, alguém viu ele por ai!? escápulas soltas, pés quebrados, colaborando para o desequilíbrio total. Cortar o dedo então, é inaceitável, já basta né.
Ok, tem muito drama nisso tudo, agora assim, confesso que tem, tô vomitando um pouco essas palavras e apertei as teclas com muita força, acontece.
Mas na real, na vida real, não é sobre drama e não vou ficar provando isso pra ninguém, aceitação agora tem outro significado, meus bens. Sinceramente, fala-se de todo tipo de preconceito fantasiado de fobia hoje, mas fobia de doente, podemos falar!? Desculpem minha ignorância, mas eu acho que devíamos parar, só um minuto e pensarmos. eu e você!? pode ser!? Sem se prender só na Aids, aí mora toda uma história com mil raízes facilmente desdobráveis...eu tô sugerindo abrir, escancarar a boca do balão...é uma infinidade, é só você olhar, um pouco mais longe, um pouco mais fundo, talvez mais perto. Olha. Olha a ponto de poder viajar, no tempo dos corpos desviados, olha aquele doente ali! Olha como ela fica doente o tempo todo, é muito estranho, não consigo entender. Não é possivel, ela não vai ao médico direito, come mal, faz coisa demais, uma enxurrada, nesse momento. Ela que nunca não perdeu o ar ao correr, que nunca pôde fumar um cigarro numa hora de estresse porque um trago um dia já significou aquela velha companheira, a sensação de morte. Aquela que tem praticamente uma semana de faltas mensais anotadas nas cadernetas da escola, aqueles que choram e desabam, e aqueles que nunca choraram e em um segundo explodiram em alucinações. Aquela que chamam pra sair e a desculpa é sempre a mesma...aquela que tem que se explicar e choca. Aquela viciada, mal amada, carente no mínimo, como pode!?. Aquela, aquela que justamente quando quer dividir ignoram. Acham feio. Acham estranho, estranho querer falar logo de cara, sobre algo tão feio, estranho falar, não tá doente!? Tá falando por que!? Tem que ficar quieta, descansar. qual é o significado disso!? Aí você apelou, jogar isso pra cima dos outro, como!? Como, nada!? enxurrada, já estou falando sozinha. É pra acreditar, não sei, entender não sei, acha brusco então, eu acredito, em mim, mas não caga na minha ha crença. Então, fala qualquer coisa...porra, se eu falei é porque eu acredito, não basta agora!? agora vai querer, mas tem que ser de outra forma...mas é condição, existência. é sobre mim!? a vida, só a vida a panela não. qualquer coisa que me pare, fala, um gesto, não é mais natural!? qualquer coisa que me interrompa. pra aliviar tudo isso eu preciso parar, não dá para ser só sobre mim. só um pouquinho, fala, um movimento, um som, qualquer coisa porra..não pode ser tão difícil assim acreditar naquilo que não entende, se é só uma panela, então essa é minha forma de dizer adeus: vou sobreviver.
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